quarta-feira, 2 de maio de 2012

Amanhã é segunda-feira

O sol se despediu há algumas horas. Foi iluminar e aquecer o hemisfério oposto. Meus olhos agora se alegram com o brilho das estrelas, amigas de minha solidão, companheiras de minhas lágrimas. Triste eu? Não. Talvez sim. Quem sabe? Então por que lágrimas? São elas o extravasamento da alma que se questiona, que suplica, que se doa? Aqui, deitada nessa grama macia, leito de muitos amores e amantes, delicio-me com o que a memória traz, lenta e perfeitamente, ao meu paladar, aos meus ouvidos, à minha pele. Primavera, motivo da presença das flores, sobretudo das orquídeas de perfume frágil e marcante. Você chegava. Você gostava delas, de mim, de nós. Uma mistura de desejo e repulsa embebeda meu estômago. O desejo até entendo, mas a repulsa me atormenta. Sinto, porém, não quero, não devo, não posso. Repulsa, não. Desejo. O proibido permite os devaneios do corpo, da alma e de sentimentos. Aquela grama macia, agora morna, aquecida pelos nossos corpos, tendo como testemunhas as orquídeas. Parece fácil, até mesmo simplório falar de você, mas não é. Descrever-te é desenhar com palavras a alegria de te ver ali e a agonia do... Do quê? Não sei. Adormeço, relaxo, percebo, enfim, a presença do frio orvalho do amanhecer. Gastei tempo demais com sonhos? De pé, recolho o que me pertence. Abandono aquele jardim, aquela grama, aquele sabor. Os sinos falam sua linguagem cantada. Nas igrejas muitos rezam, por mim, por eles, por nós. Almas pecadoras e felizes. Então, corro. O almoço de domingo deve sair sempre no mesmo horário. O cardápio, igual ao de sete dias anteriores, não perde seu encanto e o prazer do preparo e do servir. Mesa para poucos. Poucos quantos? Sete, desta vez, sete. A cozinha das Gerais não se esquece jamais, sabor e aroma inigualáveis. O capricho, tempero indispensável. A pinguinha para abrir o apetite, o doce de leite, o arroz doce, a goiabada cascão sempre acompanhada do queijo, antecedem aquele cafezinho que se apresenta, primeiro, ao olfato, depois ao paladar. A sexta, sim rotineiramente de 15 minutos. Para depois então, de mãos dadas, sem pressa alguma, caminhar pelo centro da cidade, apreciar a arquitetura, a tranquilidade das ruas. Rodas de amigos em butecos a cantar ao som de violões. O sorvete na Praça da Estação, observando o corre-corre, as gargalhadas das crianças. Inocentes. Afinal, crianças. Logo à frente o rio corta a cidade. Às margens, grama verde. Lembro o jardim e a grama morna. Sorriso nos lábios e um olhar de ... de saudade. Mais tarde caminho pelo centro da cidade. No buteco agora mais gente, tira-gosto para todos os gostos, mais violões. Violões que não abafam a voz dos sinos. Missa das dezoito ou dezenove horas? Pergunto-me. Dezenove. Então, o banho pode ser um pouquinho demorado, afinal e a sustentabilidade? Roupa nova, perfume, batom. De adorno, só os brincos de prata para contrastar com o barroco cravado, banhado, esculpido, coberto a ouro. Assumo meus pecados. Peço perdão. Amém. E o buteco ainda mais cheio, com mais petiscos. Mas, prefiro hamburguer com batatas fritas e suco de uva. Sento um frio que não sei de onde vem. Aperto sua mão. Seus braços me acolhem, seus beijos me embriagam. Em casa o amor mansinho. Pelo vidro da janela do quarto, estrelas. Hoje, sem loucuras, amanhã é segunda-feira.

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